Sérgio Marcus Rangel Porto (o Stanislaw Ponte Preta)
(Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 1923 — 30 de setembro de 1968)
Cronista, escritor, radialista, teatrólogo e compositor brasileiro.
Estive relendo FEBEAPA (Festival de Besteiras que Assola o País), numa publicação que reúne os três volumes de crônicas de Stanislaw Ponte Preta. Com esse pseudônimo o autor retrata o cotidiano na cidade do Rio de Janeiro nos tempos da ditadura. Criou também as personagens 'Tia Zulmira' e 'Primo Altamirando' - funcionando como 'filósofos' ou a 'consciência' de Stanislaw, seu alter ego. Segundo o próprio Sérgio, 'a flor dos Ponte Preta'.
Ele escrevia sobre tudo: comportamento, política, esportes, televisão, sempre com uma fina ironia, ratificando as denúncias e reportagens dos jornais da época.
Fiquei pensando, então, sobre as tantas coisas que mudaram e...as que permanecem do mesmo jeito.
Os textos, embora de uma leveza encantadora, demonstravam sua cultura e conhecimento da língua. Criticava acidamente colegas jornalistas que apresentavam texto rebuscado ou mal escrito.
Procurava as 'gafes' dos órgãos de censura e não 'perdoava', publicando-as e comentando sempre com humor inteligente.
A crônica abaixo sempre me diverte muito.
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A falada e a escrita
Stanislaw Ponte Preta
Stanislaw Ponte Preta
Do meio do ano pro fim não melhorou assim para que se diga, mas as manifestações em favor do Festival de Besteira andaram mais amenas.
O jornal 'A Nação', de Itajaí (SC), parecia ter contratado um locutor esportivo desses empenhados em entortar o vernáculo, coisa que os locutores esportivos sempre adoraram fazer.
Ainda noutro dia, ouvia eu um jogo de futebol entre o Palmeiras e o Corinthians, quando o jogador Ademir da Guia, filho do famoso zagueiro Domingos, levou uma porrada firme e caiu no campo. Foi o bastante para o entortador do vernáculo de uma emissora radiofônica de São Paulo berrar: "Adentrou o gramado o facultativo esmeraldino para atender o filho do divino, grande peça na esquadra periquita."
Mas deixa isso pra lá.
O perigo é a imprensa escrita (porque os locutores inventaram também esta besteira: imprensa falada) aderir à empolação vernacular, o que parecia ser a ideia do redator de 'A Nação' quando, relatando um simples choque entre um caminhão e uma bicicleta, ocasião em que esta ficou imprensada num poste (era a imprensa pedalada), escreveu: " O Ford Taunus, além de ser atingido em seu âmago, ao ter sua porção frontal rasgada pelo poste que aparou o ímpeto, foi danificado no capô. A bicicleta, se pode imaginar, ficou em estado deplorável, pois foi esmagada sobre o sustentáculo dos condutores elétricos."
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