terça-feira, 6 de março de 2012

STANISLAW PONTE PRETA (Sérgio Porto)

Sérgio Marcus Rangel Porto (o Stanislaw Ponte Preta)
(Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 1923 — 30 de setembro de 1968)
Cronista, escritor, radialista, teatrólogo e compositor brasileiro.


Estive relendo FEBEAPA (Festival de Besteiras que Assola o País), numa publicação que reúne os três volumes de crônicas de Stanislaw Ponte Preta.  Com esse pseudônimo o autor retrata o cotidiano na cidade do Rio de Janeiro nos tempos da ditadura. Criou também as personagens 'Tia Zulmira' e 'Primo Altamirando' - funcionando como 'filósofos' ou a 'consciência' de Stanislaw, seu alter ego. Segundo o próprio Sérgio, 'a flor dos Ponte Preta'.

Ele escrevia sobre tudo: comportamento, política, esportes, televisão, sempre com uma fina ironia, ratificando as denúncias e reportagens dos jornais da época.

Fiquei pensando, então, sobre as  tantas coisas que mudaram e...as que permanecem do mesmo jeito.

Os textos, embora de uma leveza encantadora, demonstravam sua cultura e conhecimento da língua. Criticava acidamente colegas jornalistas  que apresentavam  texto rebuscado ou mal escrito.
Procurava as 'gafes' dos órgãos de censura e não 'perdoava', publicando-as e comentando sempre com humor inteligente.
A crônica abaixo sempre me diverte muito.
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A falada e a escrita
Stanislaw Ponte Preta

Do meio do ano pro fim não melhorou assim para que se diga, mas as manifestações em favor do Festival de Besteira andaram mais amenas.

O jornal 'A Nação', de Itajaí (SC), parecia ter contratado um locutor esportivo desses empenhados em entortar o vernáculo, coisa que os locutores esportivos sempre adoraram fazer.

Ainda noutro dia, ouvia eu um jogo de futebol entre o Palmeiras e o Corinthians, quando o jogador Ademir da Guia, filho do famoso zagueiro Domingos, levou uma porrada firme e caiu no campo. Foi o bastante para o entortador do vernáculo de uma emissora radiofônica de São Paulo berrar: "Adentrou o gramado o facultativo esmeraldino para atender o filho do divino, grande peça na esquadra periquita."
Mas deixa isso pra lá.

O perigo é a imprensa escrita (porque os locutores inventaram também esta besteira: imprensa falada) aderir à empolação vernacular, o que parecia ser a ideia do redator de 'A Nação' quando, relatando um simples choque entre um caminhão e uma bicicleta, ocasião em que esta ficou imprensada num poste (era a imprensa pedalada), escreveu: " O Ford Taunus, além de ser atingido em seu âmago, ao ter sua porção frontal rasgada pelo poste que aparou o ímpeto, foi danificado no capô. A bicicleta, se pode imaginar, ficou em estado deplorável, pois foi esmagada sobre o sustentáculo dos condutores elétricos."


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