domingo, 30 de junho de 2013

"Assim caminha a humanidade" - filme de 1956



Há algum tempo - uns 6 meses - encontrei esse vídeo no youtube e achei interessante, porque nunca mais ouvi falar desse filme. O título em português talvez tenha sido um 'delírio' de algum tradutor, uma vez que o original é "Giant".
Tem uma música pop brasileira com esse nome, de autoria de Lulu Santos. Talvez seja coincidência...
Mesmo porque não se trata do mesmo tema. Sei lá...

É um filme longuíssimo, como se usava na época. Acho que foi o último com a participação de James Dean que se revela um ator extraordinário. Tem ainda Elizabeth Taylor e Rock Hudson nos papéis mais relevantes.
Fotografia linda, a história se passando nos Estados do Texas e da Virgínia, nos EUA.
Conta a saga de uma família de fazendeiros às voltas com a modernização do mundo e a descoberta de petróleo em suas terras. Trata também de alguns problemas sociais como a pobreza e o preconceito de raça nos Estados Unidos daquela época.  Muito interessante.
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Encontrei também (bendito Google) a sinopse do filme:


"Em 1923, Bick Benedict (Rock Hudson), um rancheiro texano, vai a Maryland para comprar um cavalo premiado e se apaixona por Leslie (Elizabeth Taylor), a filha do proprietário da fazenda. Eles se casam imediatamente e ela retorna com o marido para o Rancho Reata, Texas, onde Leslie vê apenas uma mansão no deserto no meio de 600 mil acres. 
Bick apresenta Leslie à sua irmã, Luz Benedict (Mercedes McCambridge), uma mulher rude e solteirona que não vê com simpatia a chegada da cunhada. 
Jett Rink (James Dean), um peão, leva Leslie para conhecer o rancho e ela fica chocada com a pobreza das famílias mexicanas e a precariedade dos alojamentos, pois assim vivem os que trabalham para Bick, que só usa o dinheiro para investir na pecuária. 
Leslie ajuda a cuidar de um recém-nascido de um empregado e decide se dedicar à melhoria das condições de vida dos pobres. 
O tempo passa e Bick e Leslie têm um belo casal de filhos, mas a vida do casal entra em total marasmo e, após uma discussão, Leslie vai com os filhos para Maryland. 
Sentindo saudades, Bick vai ao encontro da família e exatamente na sua ausência Luz cai do cavalo, leva um coice e morre. 
Ao retornar a Reata, Bick se surpreende ao saber que no testamento Luz deixara sua parte nas terras para o rebelde e beberrão Jett. 
Bick propõe comprar de volta a parte dela mas Jett recusa, pois acredita que aquela terra o deixará rico. 
Um dia Leslie para na porta do rancho de Jett e este, amistosamente, a convida para entrar. Quando ela está indo embora pisa em um barro escuro e, na hora, Jett percebe a lama oleosa nos sapatos dela. 
Ele consegue dinheiro emprestado e começa a perfurar o solo, até que um dia jorra petróleo no local. Ao ver o que acontece ele toma um banho de petróleo e, com seu carro velho e amassado, vai até Reata para mostrar ao seu antigo patrão que agora ele também seria rico. 
Jett avisa que o petróleo irá acabar com a pecuária. 
Os anos passam e ele agora é um magnata do petróleo, dono da Jettexas Company, mas apesar de milionário ainda continua alcoólatra e a rivalidade entre Bick e Jett ainda existe."


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Publico aqui no blog porque são lembranças vivas que trago da minha juventude. A internet e a vida me proporcionaram esse luxo. O de recordar com comprovação, hahaha!!
Sim, porque muitas vezes conto algumas vivências para os meus netos e não sei se eles acreditam em tamanha transformação de costumes, gostos e comportamentos em tão pouco tempo.

Enfim, para quem 'curte', aí está.

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Filme "O OVO DA SERPENTE"

O OVO DA SERPENTE

Título Original: The Serpent´s Egg
Gênero: Suspense
Direção: Ingmar Bergman
Elenco: David Carradine, Liv Ullmann, Heinz Bennent, Gert Fröbe

Abel Rosenberg, um trapezista judeu desempregado, está em Berlim em Novembro de 1923 para tentar descobrir a razão do suicídio de seu irmão.
A Alemanha está em crise na república de Waimar em razão da primeira guerra mundial.
O povo vive em constantes crises existenciais, econômicas e sociais, o poder político está em franco declínio e os cidadãos vivem sem uma perspectiva de futuro.
Neste ambiente de caos o “ovo da serpente” encontra ambiente propício para ser chocado e eclodir com força e mudar os destinos do mundo e da Alemanha.
Abel encontra abrigo em um apartamento de um cientista que também lhe oferece um emprego.
Sua cunhada vive como corista em uma boate de quinta categoria e mora em uma pensão e ambos acabam se relacionando nesta semana tumultuada.
A solidão de ambos, a miséria em que vivem e o futuro sem futuro os colocam numa situação constrangedora de viver um caso tumultuado.
No trabalho Abel desconfia que alguma coisa está errada e, ao investigar o tal cientista, descobre que ele está fazendo experiências humanas em nome da ciência médica e da supremacia ariana e encontra respostas para o suicídio do irmão.

A fome, o desemprego, a superinflação e a violência urbana criam situações de desespero geral aumentando o descontentamento de uma nação criando assim um ambiente favorável para que Hitler encontre eco a sua megalomania de um poder absoluto e tirano.
Acima de tudo, encontra um povo disposto a elevá-lo ao topo da hierarquia indiferente aos seus métodos racistas e cruéis.
Um retrato fiel de uma Alemanha em crise e uma profunda reflexão sobre as origens do nazismo.

O título do filme é uma síntese perfeita das condições que permitiu o surgimento de Hitler e seu regime nazista.

Não é um filme para se assistir indiferente e a reflexão se faz necessária até para que não venhamos a cair na mesma armadilha de sermos salvos por falsos heróis e salvadores da pátria egocêntricos e racistas.
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sexta-feira, 28 de junho de 2013

Em família... de novo e graças a Deus


Tivemos ontem mais uma reuniãozinha familiar, comemorando o aniversário de um dos genros. Tudo muito simples, espontâneo e gostoso.
Os amigos de verdade do casal e  nós 'da casa'.
Acho importante que mesmo com a tal 'correria' da vida atual reservemos um tempinho para fazermos um agrado, um carinho aos que fazem a nossa vida mais rica, mais leve.


Nossa... estou 'quebrada' de tanto jogar futebol (acreditem!) com o meu netinho de um ano e meio. O danadinho é bom de bola como vocês não imaginam. E me pega pela mão e traz a bola e se posiciona para o jogo: 'a bó, vovó, a bó'... e lá vou eu castigar meus velhos ossinhos em lances e dribles com quem entende do assunto.


É curioso como a relação com as gerações mais novinhas é muito melhor... Os maiores já não se lembram de como é estar com a vovó... que passou a ser só mais um parente (ou parenta, como quer a Copélia de 'Toma lá dá cá').  Os pequeninos não... eles ainda têm aquela confiança, aquela certeza de que junto com a gente estarão sempre bem, sempre protegidos. É bom demais.


Enfim, uma noite muito agradável que agradeço sempre a família tão gostosa - essa com que Deus me presenteou e que nem sei se mereço... mas aceito com todo o coração, com toda a alegria.

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terça-feira, 25 de junho de 2013

CRISTOVAM BUARQUE


O discurso que Dilma não fez
Cristovam Buarque

“Jovens do Brasil, brasileiras e brasileiros:

Nós erramos. Erramos todos nós que recebemos de vocês mandato para governar bem o Brasil, esquecendo os sonhos de vocês. Nós todos, os políticos e seus partidos, erramos. Mas devo admitir que nós que há 10 anos governamos o Brasil erramos mais e, especialmente, eu própria errei ainda mais, como a presidenta de vocês.

Nós erramos ao sermos a 6ª economia do mundo e a 88ª nação em educação; ao deixarmos o Brasil ser o mais violento país do mundo, fora de guerra; ao priorizarmos sempre o privado, especialmente transporte, em detrimento do público; ao tolerarmos a corrupção e não conseguirmos punir aos corruptos; ao consumir o presente sem investir no futuro; ao deixarmos toda juventude sem sonhos de utopia para seu país e parte dela sem o atendimento do essencial para seu presente; ao montarmos governos de acordos, lotando os cargos, nem sempre utilizando os mais capazes.

Nós erramos e temos que agradecer a vocês que foram para a rua manifestar indignação com a realidade política do Brasil. E erraremos muito mais se não entendermos que dois milhões de pessoas nas ruas não podem aceitar menos do que uma revolução.

Creio, e gostaria de ouvir a opinião de vocês, que no momento não se trata de uma revolução econômica e social, como aquela que me levou às ruas e até à lutas mais radicais, algumas décadas atrás.

Para mim, a economia e a sociedade precisam de fortes reajustes, de uma inversão nas prioridades, mas a revolução pela qual vocês vão às ruas está na subversão da atual estrutura política.

Fazer uma revolução na política para que nossos dirigentes tenham o sentimento das necessidades e vontades que estão na alma do povo, e que nossos executores tenham o mérito necessário para ocupar as diversas posições com a competência que o Estado moderno exige.

Este é meu sentimento, como a presidenta do Brasil, mas quero ouvir vocês, sentir o que pensam, pedindo que escolham e me enviem interlocutores, sem que quaisquer deles tenham monopólio, ouvirei todas as vozes e não só aquela de meu partido e de minha base de apoio.

Quando o povo coloca dois milhões de pessoas nas ruas, o governante não pode ter a cegueira de ficar restrito aos seus apoiadores e assessores. Até segunda feira, submeterei ao Congresso a proposta de realização de uma constituinte exclusiva para definir o marco legal de uma revolução na política.

Antes de entrar em vigor, a proposta destes constituintes será submetida a um plebiscito, para saber se ela está de acordo com o que o povo deseja.

Determinarei também aos meus ministros uma reanálise completa das prioridades dos investimentos e gastos governamentais, não apenas para os meses que restam de meu mandato, mas também para o futuro do nosso país.

Como quem na juventude lutou como vocês por um Brasil melhor, fico entusiasmada e grata pelo fato de a história ter me colocado o desafio de presidir um país, onde 2 milhões de pessoas estão nas ruas protestando pelo acúmulo de tantos anos de erros, especialmente de meu governo.

Eleita, democraticamente, agora preciso ir além da eleição e me ajustar à vontade do povo. São desafios como estes que permitem um governante na história, não apenas como administradora da herança recebida, mas como estadista do futuro a ser construído.

Eu agradeço a vocês não apenas pelo alerta, mas, sobretudo pela chance histórica que me ofereceram. Não vou deixar de ouvi-los, não vou decepcioná-los, podem ficar certos de que dedicarei cada instante do que me resta do mandato para estar à altura do momento e de vocês.

Muito obrigada, viva a democracia, viva o Brasil que vocês querem construir”.

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Cristovam Buarque é professor da UnB e senador pelo PDT-DF.

Chico Buarque - 'Supõe' (Nara Leão)



Supõe
Chico Buarque (versão da canção "Supon", de Silvio Rodriguez)

Supõe que já cruzamos pela vida
Mas nos deixamos sempre para trás
Porque eu andava sempre na avenida
E tu corrias pelas transversais

Supõe que num comício colorido
A praça, enfim, vai nos conciliar
Supõe que somos do mesmo partido
Supõe a praça a se inflamar
Bandeiras soltas pelo ar
E tu começas a cantar
Supõe que eu vibro, comovida
E supõe que eu sou tua canção

Supõe que te apresentas como amigo
E me perguntas nome e profissão
Comentas que faz sol, ou tem chovido
Ou outro comentário sem razão
Supõe que eu te observo, compreensiva
Porém não tenho nada a acrescentar
Supõe que falas coisas dessa vida
Como querendo aparentar
Que tu tens muito o que contar
Que és um tipo original
Supõe que rio, divertida
E supõe que eu sou tua canção

Supõe que nós marcamos um cinema
Mas chegas lá pro meio da sessão
Pois teu trajeto tem algum problema
Que só te leva numa direção
Supõe que agora a tela me ilumina
Tu ficas assistindo ao meu perfil
Supõe a minha mão tão recolhida
Que não percebe a tua mão
Que não percebe a minha mão
Que não é sim, que não é não
Supõe que eu sigo distraída
E supõe que eu sou tua canção

Supõe que a boa sorte é nossa amiga
E que das 3 às 5 pode ser
Meu pai acaba de dobrar a esquina
E tu vens me encontrar, enfim, mulher
Supõe que sem pensar nos abraçamos
Supõe que tudo está como previmos
É a primeira vez que nos amamos
Supõe que falas sem parar
Supõe que o tempo vem e vai
Supõe que és sempre original
Supõe que nós não nos despimos
E supõe que eu sou tua canção

*          *          *

segunda-feira, 24 de junho de 2013

XICO SÁ - para acalmar os ânimos...


Amor de passeata
Xico Sá - Folha de S.Paulo, 24 de junho de 2013

A onda de manifestações também deixa seus amores, seus quase amores, suas paqueras à espera de uma certa primavera, suas promessas de felicidade dispersadas à base das balas de borracha.

Amor de passeata pode durar apenas um beijo, amor de troco, amor tipo 20 centavos, amor de passeata é amor volúvel que pode durar apenas uma palavra de ordem, abaixo alguma coisa e pronto.

Amor de manifestante é amor de causa… Depois daquela noite cada um vai cuidar de salvar a própria pele em outra barricada.

Amor de passeata é o amor que conjuga o verbo ocupar no sentido mais amplo: eu te ocupo, tu me ocupas e nós ocupamos juntos o espaço sideral dos nossos sonhos, meu amor de  Barbarella.

Amor de passeata é do tipo toda forma de amar vale a pena, tipo assim o melhor cartaz contra o Feliciano: “meu cu é laico”.

A falta de uma causa bem definida também pode ser um bom motivo amoroso. A história como pano de fundo, mesmo em um triângulo que ocupa mais a banheira do que as ruas, a causa com bouquet de vinho francês, por que não? Viva Paris 68 no retrovisor dos passos da rapaziada de hoje.  Afinal de contas o amor por si já é uma puta bandeira e acaba empurrando para as ruas naturalmente -estou falando, evidentemente, do  filme que ilustra esse post, “Os Sonhadores”, do gênio Bernardo Bertolucci.

Amor de passeata também pode lembrar, caro Marechal, aquele maluco do “bloco do eu sozinho”, cá do Rio de Janeiro, cada um com o seu motivo de protesto em busca de um cordão de isolamento.

Amor de passeata é indecifrável como foi inicialmente a onda dos manifestos. Amor de passeata é rachado, porque meu partido é um coração partido, como disse o poeta do Baixo.

Pode ser anarco-punk o amor no meio do tumulto, faça você mesmo, não espere o movimento tomar corpo.

Duro é proteger a amada, a amante, no meio daquela nuvem de efeito moral e covardia fardada.

A passeata também é uma boa hora para dar um sacode naquele amor acomodado, aquele amor oficial que repete as práticas demodês, aquele amor ressentido, resquícios autoritários, aquele amor que gostava de política ainda no Collorgate.

Manifeste-se, Lola, contra esses tempos de homem frouxo, o homem de Ossanha, aquele do samba do Vinícius e do Baden, o cara do diz que vai-não-vou, eterno chove-não-molha.

Duro é amar de verdade, pois o amor, assim como o mar dos protestos, não tem uma pauta definida. Decifra-me ou me apavoro, ameixas, ame-as ou deixe-as, já avisou o cartaz do samurai-polaco.

Em compensação, quando vinga, o amor de passeata é por muito tempo… E o fim, um dia, quem sabe, será com as lágrimas sinceras do luto, vai lembrar que vocês se conheceram chorando gás lacrimogêneo.

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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Opinião de Cristovam Buarque sobre violência

"Esse vídeo foi gravado de um celular (desculpa).

Mostra a plenária do senado no momento das manifestações na frente do congresso do dia 20/06/13. 

No momento só tinha em torno de 5 senadores, entre eles Randulfo Alves e Ana Amélia, os únicos corajosos que toparam ficar enquanto o couro comia lá fora. 
Todos os outros, inclusive o presidente da casa, Renan Calheiros, estavam com os rabinhos entre as pernas e fugiram. 

O Senador Cristovam deu uma resposta quando indagado sobre baderna na manifestação. 
A baderna é gerada dentro do congresso e passada para povo."





Manifesto



20/06/2013
CORRUPTO, PRESENTE!
PT achou que pão e circo bastavam

BRASÍLIA, QUINTA (20): O PAÍS MERGULHADO NA ANARQUIA
Brasília – (por Jorge Oliveira) -

Os cientistas políticos e os sociólogos de plantão ainda estão atônitos com as manifestações de rua que ocorrem no país. A convulsão social que explodiu nos estados com milhares de pessoas protestando é a combustão espontânea da revolta de um povo que estava contido, manipulado por políticos e liderado por um governo que subestimou a sua capacidade de se indignar. O PT achou, durante muito tempo, que o pão e o circo seriam suficientes para manter os brasileiros anestesiados. E o que se vê é a revolta popular contra as migalhas dos programas sociais, a alta da inflação, o endividamento da classe média levada ao consumo por uma política econômica leviana e desastrosa de um governo que administra o país no improviso.

Nem os mais abalizados analistas políticos seriam capazes de imaginar que o circo iria pegar fogo e o pão seria rejeitado pelo povo que está nas ruas para reivindicar por seus direitos em um país que só sabe exigir da sua população, mas nada oferece em troca. Não reduz os impostos exorbitantes, não combate a violência e a epidemia do crack. Não oferece transporte público eficiente, abandonou a educação e a saúde e paralisou as obras de infraestrutura freando a geração de emprego. O governo petista se distanciou do povo e se enclausurou em grupelhos. Ignorou a capacidade de aglutinação dos jovens, a importância das redes sociais e o poder de mobilização da classe média, enxertada por emergentes da classe “c”, antenados com a política e a economia em crise do Brasil e de outros países.

Mas numa análise mais simplista, observa-se que no cerne de toda essa questão o combate a corrupção é a palavra de ordem que se repete nos cartazes e está na boca dos manifestantes. O pais está atolado na lama, a honestidade desce pelo esgoto. Não existem mais líderes, homens públicos confiáveis. O Brasil está mergulhado na anarquia, dominado por pelegos sindicais irresponsáveis, analfabetos e despreparados que povoam os 39 ministérios e outros órgãos públicos. A presidente da República, como uma autista, mostra o seu despreparo para dirigir o país quando em plena crise voa para São Paulo para se aconselhar com Lula e o marqueteiro João Santana. Mais uma vez ignora o clamor das ruas e prioriza a reeleição, enquanto o país pega fogo! O marketing não salvou Collor quando pediu que a população saísse às ruas de verde e amarelo para apoiá-lo na crise. A multidão vestiu-se de preto. O resultado, todos conhecem.

#vemprarua

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BRASIL HOJE...














quarta-feira, 19 de junho de 2013

Sim, Chico - "A gente quer ter voz ativa..."


Manifestação em Brasília - 17 de junho de 2013

Foto: Manifestação em Brasília , 17-06-2013

É claro que o contexto é diferente... Todos sabem disso. 
O mundo mudou... (chavão mais idiota) o que todos sabem também.

'Iiihhh... essa frase não serve para este momento; ficou velha.'

Calma... tente manter a calma e pense. 

Não se trata de uma frase solta. São dois versos da canção Roda-Viva, de Chico Buarque de Holanda, composta em 1967 para a peça teatral homônima.

Roda-viva 

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mais eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá

Roda mundo, roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
No volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há 
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a roseira pra lá 

Roda mundo, roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua, a cantar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a viola pra lá

Roda mundo, roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a saudade pra lá

Roda mundo, roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
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Essa letra tem um chão histórico específico, - o regime ditatorial no Brasil.
É desse tempo que ela data e é o que esse tempo representou para a experiência brasileira que ela aborda e cifra.
Eu falei "em cifra"?
Sim, a palavra cifra tem, além da acepção comercial que conhecemos, o sentido de explicação de escrita hermética, enigmática, como as cifras musicais e, por extensão, passa a significar essa própria escrita.
Decifrar é justamente tirar a cifra, tornar o texto claro, interpretá-lo, entendê-lo.

Todo sistema autoritário representa, para a Cultura de qualquer país, o fim da liberdade de expressão.
Um meio muito utilizado para driblar a censura é a metáfora, o despistamento, a linguagem figurada, a cifra. 
Alguns escritores e jornalistas falam aparentemente de flores e rouxinóis quando, na verdade, se referem a situações de repressão político-social.

O que é roda-viva?
Roda-viva é, conforme os dicionários, movimento incessante, corrupio cortado; é ainda confusão, barulho.
O texto menciona ações frustradas pela roda-viva.

Na letra, a roda-viva está associada à morte, ao contrário do que indica a palavra.
A roda ceifa, arranca aquilo que ainda está em desenvolvimento: a gente estancou de repente ; a gente parou (de crescer) de repente.
Note-se o expressivo uso de estancar, que nos faz lembrar imediatamente de sangue.
Somos impedidos de decidir o próprio destino, de adquirir autonomia, assim  como um fluxo de sangue é estancado.
Essa espécie de rodamoinho  arrebata a voz, o destino das pessoas e a capacidade de exprimir artisticamente seu sofrimento: arrebata-lhes ainda a viola .
A roda-viva arrebata da gente a roseira há tanto cultivada e que não teve tempo de exibir tudo o que prometia.

A composição é cortada por dois movimentos: um expressa a ação empenhada, o trabalho sistemático, o desejo de ser o sujeito da própria história.
A esse movimento pertence o querer ter voz ativa, o ir contra a corrente (da roda-viva), o cultivo ininterrupto da rosa, o tocar viola na rua e a saudade de tudo isso (na medida em que a saudade pode ajudar a reorganizar o pensamento).

O outro movimento expressa a ação abortiva exercida pela roda-viva.
Esse movimento vem expresso numa frase repetida, o refrão: "Mas eis que chega a roda-viva e carrega (o que quer que seja) pra lá".
A conjunção "mas" sinaliza justamente essa mudança de direção, marca uma ação adversa.

A frase "eis que chega..." vem sempre ligada na letra a um tipo de estribilho, a uma fórmula aparentemente ingênua, que lembra as cantigas de roda: "roda mundo, roda gigante/ roda-moinho, roda pião/ o tempo rodou num instante nas voltas do meu coração".

Essa fórmula, inocente na aparência, dado seu teor caótico e quase surrealista (típico de enigmas, cantigas de ninar etc.) e a referência a brinquedos infantis (roda-gigante, pião), tem o efeito de exprimir um desnorteio, uma situação absurda, fora do esquadro.
De fato, não é possível conceber a ditadura como algo natural. Ela não pertence à ordem da razão.

Esses movimentos descritos na letra são, portanto, de trabalho em curso e de sucessiva frustração.
Isso descreve muito bem a experiência nas ditaduras, tanto do ponto de vista social e político como do ponto de vista cultural.

No caso do Brasil, quando estávamos começando o exercício da democracia, é instalado o regime totalitário. Sufoca-se até a saudade (já cativa) de outros tempos.

Esse ambiente de mal-estar foi filtrado por Chico Buarque com muita cautela: era preciso despistar a censura, daí a profusão de rodas e de versos encantatórios; era preciso dizer a verdade, daí o tumulto e a sensação de frustração que vem de tantas rodas.         (Texto adaptado de uma aula - "Alô Escola")
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Dito isso, gostaria de acrescentar que os acontecimentos desses dias me deixam apreensiva pela forte carga emocional para quem, como eu, não esquece aquele tempo pesado (21 anos), e por saber que muitos dos que estão hoje no poder, agem como se tivessem esquecido.  É surreal.

Certa vez, há muito tempo, um colega muito inteligente - na época do Curso Ginasial - me disse: "As liras são diferentes, mas as dores não."


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terça-feira, 18 de junho de 2013

HENRY DAVID THOUREAU - A vida nos bosques


“Com a minha experiência aprendi pelo menos isso: que se uma pessoa avançar confiantemente na direção de seus sonhos, e se esforçar por viver a vida que imaginou, há de se encontrar com um sucesso inesperado nas horas rotineiras. 

Há de deixar para trás uma porção de coisas e atravessar uma fronteira invisível; leis novas, universais e mais abertas começarão por se estabelecer ao redor e dentro dela; ou as leis velhas hão de ser expandidas e interpretadas a seu favor num sentido mais liberal, e ela há de viver com a aquiescência de uma ordem superior de seres.

À medida que ela simplificar a sua vida, as leis do universo hão de lhe parecer menos complexas, e a solidão não será mais solidão, nem a pobreza será pobreza, nem a fraqueza, fraqueza.

Se construístes castelos no ar, não terá sido em vão vosso trabalho; eles estão onde deviam estar. Agora colocai os alicerces por baixo”.


Henry David Thoreau, “Walden” ou “A Vida nos Bosques” 
(Editora Ground, tradução Astrid Cabral)




Foto: Você é o macaco que estava faltando.
http://papodehomem.com.br/manifestacoes-no-brasil-o-cisne-negro-e-o-centesimo-macaco/

(Imagem: manifestação de ontem, Rio de Janeiro)
Rio de Janeiro, 17 de junho de 2013

segunda-feira, 17 de junho de 2013

O luto dos animais - Revista Isto É

ISTO É Independente -   N° Edição:  2267 |  26.Abr.13 

O luto dos animais
Pesquisadora americana comprova que bichos selvagens e domésticos sofrem e demonstram tristeza após a perda de companheiros

Juliana Tiraboschi

Confira cenas que demonstram o luto entre golfinhos, elefantes, gatos e macacos:

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Harper e Kohl eram amigos inseparáveis. Por causa de uma fratura mal curada, Kohl não caminhava direito. Quando parou de andar e a dor se tornou insuportável, foi sacrificado. Harper assistiu ao procedimento, deitou-se ao lado do corpo e lá permaneceu por horas. Durante semanas, Harper ia todos os dias ao local favorito da dupla, perto de uma lagoa em Watkins Glen, nos Estados Unidos. Quando as pessoas se aproximavam, ele ficava arredio e assustado. Depois de dois meses, Harper também morreu. Essa história, que descreve emoções muito humanas como tristeza e medo, aconteceu com dois patos e foi a que mais impressionou a antropóloga americana Barbara King durante suas pesquisas para o recém-lançado livro “How Animals Grieve” (Como os Animais Ficam de Luto), sem versão em português.

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SELVAGENS
Chimpanzés, pássaros e elefantes estão entre os animais
que reagem com sofrimento à morte de semelhantes

Barbara começou sua carreira estudando chimpanzés. Com o avanço das pesquisas, descobriu que um sistema emocional complexo e profundo, ainda não totalmente compreendido pelos cientistas, integra a personalidade de vários animais, indo muito além dos primatas, elefantes e golfinhos – as estrelas da inteligência entre os bichos. “Cavalos, coelhos e pássaros são muito interessantes. Dependendo da personalidade do indivíduo e do estímulo que eles recebem, podem desenvolver um grau maior de empatia por seres semelhantes”, afirma a pesquisadora. Essa empatia, que pode ser vista na tristeza demonstrada após a morte, está vinculada também à necessidade de alianças dentro de um bando. “Indivíduos dominantes sofrem mais com a morte de outro animal do grupo do que os submissos”, diz o zootecnista e especialista em comportamento animal Alexandre Rossi, apresentador do programa “Missão Pet”, do canal National Geographic.

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Entre animais selvagens, as cenas de luto e tristeza vão desde chimpanzés que observam em silêncio o companheiro morto até elefantes que estendem as trombas a um filhote moribundo. No caso de animais domésticos, as ligações são ainda mais fortes. A empresária Mariana Delbue, de São Paulo, passou por dificuldades com a labrador Luna quando a cadela perdeu a mãe, que sucumbiu a um câncer em fevereiro. “Ela ficou uma semana sem comer direito, quase não bebia água e ficava entrando e saindo da casinha, chorando”, diz. Para ajudar a cadela a superar o luto, a família a deixou dormir dentro de casa e a submeteu a um tratamento com antidepressivos. “Ela parou de chorar e voltou a comer, mas virou a minha sombra, ficou superapegada a mim”, diz Mariana.

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Embora o luto seja uma realidade entre os animais, Barbara ressalta que a ciência está longe de desvendar totalmente o grau de compreensão deles sobre o fim da vida. “Nem toda a resposta à morte significa luto”, diz. Alguns bichos reagem com curiosidade, cutucando o cadáver. Outros parecem indiferentes à perda de um companheiro e até praticam canibalismo. “O luto deles é diferente do nosso. Pessoas sofrem por estranhos e conseguem canalizar esse sentimento de várias formas”, diz. No entanto, a comprovação de que alguns bichos sentem a perda de seus semelhantes mostra que as emoções não são, definitivamente, exclusividade do ser humano.

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Fotos: Monica Szczupider/ National Geographic Stock; Gemma Catlin / Rex Features / Glow Images

sábado, 15 de junho de 2013

Introspecção

Dia difícil internamente...
Tento ficar 'de fora' das situações loucas - aparentemente fico - mas por dentro há uma verdadeira convulsão.
Nunca fui das mais calmas e acomodadas, mas a idade refreou muito a minha palavra e as minhas atitudes.
Estou quieta aqui, pensando, tentando analisar os acontecimentos e chego à conclusão de que cada vez entendo menos de tudo.
Estou quieta aqui. Devo permanecer quieta aqui. É assim que se comporta uma senhora de certa idade... quieta, para não causar estranheza. Quieta.
Um sentimento de inutilidade muito grande. Ficar quieta, é o que diz o bom senso. Fique quieta, muda, parada, desapareça, torne-se invisível e inaudível - o que agora estou.
Talvez eu tenha me cansado. É isso. Sinto um enorme cansaço.

*            *            *

"SINAL FECHADO" - Mauro Ventura

Sinal Fechado
Mauro Ventura - O Globo, 04 de junho de 2013

Ouvi uma conversa profunda agora pouco na rua.

- Fala, Fulano.

- Oi, seu Sicrano, tudo bem?

- Tudo. E aí, beleza?

- Beleza. Tá tudo certo?

- Tá.

- Vou indo.

- OK, valeu.

- Valeu.

Como diz meu amigo Marcos Veras, "é a versão século 21 do 'Sinal fechado' de Paulinho da Viola".

*            *            *

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Tem japonês no samba...



Impressionante... o Brasil representado por outra cultura, com o que temos de melhor na MPB: Ary Barroso e Noel Rosa, compositores que nós, brasileiros, nem nos damos conta.
Não é um orgulho e, ao mesmo tempo, uma vergonha?!

Pena que não consegui o nome dos dois... No youtube está em japonês!

Gostei da pronúncia e da voz da moça. Muito legal!

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Dolores Duran - Uma lembrança



Manias
Flávio Cavalcanti e Celso Cavalcanti

Dentre as manias que eu tenho 
uma é gostar de você

Mania é coisa que a gente
tem mas não sabe porque
Mania de querer bem, às vezes de falar mal
Mania de não deitar sem antes ler o jornal

De só entrar no chuveiro cantando a mesma canção
De só pedir o cinzeiro depois da cinza no chão

Eu tenho várias manias, delas não faço segredo
Quem pode ver tinta fresca sem logo passar o dedo?
De contar sempre aumentado tudo o que diz ou que fez
De guardar fósforo usado dentro da caixa outra vez

Mania é coisa que a gente
tem mas não sabe porque
Dentre as manias que eu tenho 
uma é gostar de você

...uma é gostar de você

*          *          *

Ah, Dolores Duran... nem sei bem por quê estive esses dias me lembrando de você... Você, cuja voz saía daquela vitrolinha bem anos 60, dos LPs (acho que hoje se diz 'vinil') que meu pai comprava para mim - eu devia ter uns treze ou quatorze anos e você já não estava mais neste mundo. 
Eu aprendia as letras... e cantava junto...e achava tudo tão bonito... Suas composições, então, me fascinavam: 'Ternura antiga', 'A noite do meu bem', 'Fim de caso', 'Noite de paz'', Castigo', 'Canção da volta'...e tantas outras.

Coincidência ou não, essa lembrança veio perto do seu aniversário de nascimento, 7 de junho,  mas eu nem estava pensando nisso, aliás, eu nem sabia antes de procurar suas canções no youtube. Estranho, não? Você foi embora tão jovem... 29 anos e cardíaca. Quem imaginaria?

Ajuda de Wikipédia: (novos tempos, Dolores)

Dolores Duran, nome artístico de Adileia Silva da Rocha (Rio de Janeiro, 7 de junho de 1930 — Rio de Janeiro, 24 de outubro de 1959).

Nasceu numa vila na rua do Propósito, no Centro do Rio de Janeiro, onde morou por alguns anos. 
Teve uma infância pobre e não conheceu o pai. Mudou-se para um cortiço no bairro da Piedade, subúrbio carioca, com a mãe, o padrasto e as irmãs Denise, Solange e Leila. 
Desde criança gostava de cantar e sonhava em ser cantora famosa.

Quando estava com  doze anos, teve que abandonar os estudos, parando no ensino primário, para ajudar a mãe com despesas de casa. 
Arranja um emprego e passa a trabalhar como atriz nas rádios Cruzeiro do Sul, nos programas da Tupi e no teatro, além de cantar em programas de TV, mas todos esses empregos eram temporários, o que não garantia dinheiro certo.
(...)
Tenta terminar os estudos, ingressando no ginásio, pagando uma escola, mas como o dinheiro era pouco e as mensalidades da escola estavam atrasadas, ela é expulsa do colégio.
(...)
 Sem nunca ter estudado línguas, aprendeu sozinha a cantar em inglês, francês, italiano, espanhol e até em esperanto.
Ella Fitzgerald durante a passagem pelo Rio de Janeiro, nos anos 1950, foi à boate Baccarat especialmente para ouvir Dolores e entusiasmou-se com a interpretação para My Funny Valentine - a melhor que já conhecera, declarou Fitzgerald.
(...)

Seu nome é espanhol, dramático e significa Dores. É muito forte, com uma carga de dor e sofrimento intenso; o sobrenome Duran, que quer dizer durante, sempre, intensifica ainda mais, como se não tivesse fim essa dor.

O jornalista Antônio Maria foi um dos melhores amigos da cantora, e escrevia publicações sobre ela.
Suas músicas se tornaram estrondoso sucesso. Eram dramáticas, belas e românticas, e expressavam os sentimentos mais puros de um coração. Prova disso é que Antônio Maria publicou: "Dolores Duran falou de sentimentos como ninguém, em todas as línguas. Seu idioma era o amor!"

Cantava em diversas boates no boêmio Rio de Janeiro daquela época. Sua fama se espalhou e foi contratada pela Rádio Nacional, uma das várias rádios cariocas que reuniam artistas do país inteiro, e que na época só escolhia os melhores cantores.
(...)

Jamais estudou canto e música, mas sua voz não precisava de correção através de aulas. Parecia mesmo que ela tinha nascido para cantar. Nessa época, seu padrasto morre e sua família enfrenta grandes dificuldades.
Passou a cantar músicas internacionais no programa Pescando Estrelas, onde só havia cantoras jovens e conceituadas. Lá ela conhece e se torna melhor amiga da cantora da importante Rádio Guanabara e da famosa Rádio Nacional, Julie Joy.
(...)
Muitas vezes, nas madrugadas, ela criava suas letras na mesa dos bares, bebendo e fumando, ouvindo canções de bolero, salsa, choro e samba.
Inspirava-se em seus casos amorosos e na sua vida em geral, suas alegrias, tristezas, dores, anseios e mágoas, para compor suas inesquecíveis letras.
(...)
Conheceu o cantor e compositor Macedo Neto, de quem gravou diversos sambas. Os dois se conheceram nos estúdios da gravadora Copacabana e rapidamente foram morar juntos.
Antes de se casarem no papel, porém, Dolores engravidou dele e passou por uma gravidez tubária (gravidez de alto risco que acarreta esterilidade materna e perda do feto), interrompendo seu sonho de ser mãe, o que arruinou sua vida e a levou a piora do vício em cigarro e bebidas.
(...)

Em 1956, fez sucesso com a canção Filha de Chico Brito, composta por Chico Anysio.
No ano seguinte, um jovem compositor apresentou a Dolores uma composição dele e de Vinícius de Moraes. Tratava-se de Antônio Carlos Jobim em início da carreira.
Em três minutos, Dolores pegou um lápis e compôs a letra da canção "Por Causa de Você". Vinícius ficou encantado com a letra e gentilmente cedeu o espaço a Dolores.
Foi revelado, a partir daí, o talento de Dolores para a composição e grandes sucessos, como Estrada do Sol, Ideias Erradas, Minha Toada e A Noite do Meu Bem, entre outros.

Em 1958, após muitas discussões e brigas violentas, desquitou-se de Macedo Neto e passou meses na Europa cantando e se apresentando com seu conjunto musical, fazendo muito sucesso.
Lá encontrou e viveu novos e intensos amores.
(...)

Cantou no Uruguai, na União Soviética e na China, na companhia de músicos brasileiros, mas, por desentendimento dela com o grupo, Dolores muda de planos e realiza seu grande sonho, viajando da China sozinha para Paris. Ficou um bom tempo passeando e conhecendo as maravilhas da cidade-luz, a bela e encantadora Paris.
De volta ao Brasil algum tempo depois, pegou para criar uma recém-nascida, pobre e negra, a quem deu nome de Maria Fernanda da Rocha Macedo, que foi registrada por Macedo Neto, mesmo estando ele separado de Dolores e a menina não ter com ele qualquer parentesco.
Passeava com a menina e lhe deu tudo de bom que o dinheiro e o amor podiam proporcionar.
A partir daí, durante os dois últimos anos de vida, compôs algumas das mais marcantes canções da MPB, como Castigo e Olha o Tempo Passando, e outras tantas.
(...)

Na madrugada de 23 de outubro de 1959, depois de um show na boate Little Club, a cantora saiu com seus amigos para uma festa no requintado Clube da Aeronáutica. Ao sair da festa, resolveram fechar a noite bebendo e ouvindo canções no Kit Club.
A cantora chegou em casa às sete da manhã do dia 24. Brincou e beijou muito a filha, já com três anos.
Em seguida, passou os últimos cuidados à empregada Rita: "Não me acorde. Estou cansada. Vou dormir até morrer", disse brincando.
No quarto, sofreu um infarto fulminante - que, à época, foi associado a uma dose excessiva de barbitúricos, cigarros e álcool.
Encontra-se sepultada no Cemitério do Caju no Rio de Janeiro.
**

Pois é... e cá estou eu a recordar essa moça, essa cantora e compositora de enorme talento tão pouco conhecida das gerações mais jovens.  Este país é muito esquisito mesmo!

Dolores Duran

*          *          *

Mulheres de Hollanda - Roda viva (Chico Buarque)

domingo, 2 de junho de 2013

BANDEIRA na oficina - José Castello

Bandeira na oficina
José Castelo - O Globo, 01-6-2013

Quase sempre saio abatido de minhas oficinas literárias. Em parte, grande parte, é cansaço. Mas há uma parte de frustração. O que me aborrece? O sentimento -  talvez excessivamente severo -  de que não soube escutar meus alunos. E, sem saber escutá-los, não consegui lhes dar o que esperavam de mim. Nessas horas, um poema, um pequeno poema de Manuel Bandeira, quase sempre me volta à mente.Transcrevo-o, já que tem só nove linhas.

"O professor disserta
sobre o ponto difícil do programa.
Um aluno dorme, 
cansado das canseiras dessa vida.
O professor vai sacudi-lo?
Vai repreendê-lo?
Não.
O professor baixa a voz
com medo de acordá-lo".  (*)

          É simples: tudo o que o aluno tem de melhor, naquele momento, para oferecer ao professor é o seu sono. O seu cansaço. Seu esgotamento. Qualquer coisa que se obrigasse a dizer, qualquer esforço que fizesse para acordar e lhe dar atenção, não seriam seus. Não passariam do desempenho de um papel. Bandeira está certo: cabe ao professor escutar, acolher, partir das coisas mais terríveis, ou mais banais, que um aluno tiver a lhe dar. Por exemplo: um sono profundo.

          Tenho como princípio _ como ideal _ chegar a minhas oficinas desarmado. Sim: deixar minhas armas de defesa, meus escudos, minha lógica protetora, na sala de espera. Chegar como se fosse uma tela branca que alguém carrega e coloca à frente dos aluinos. Ou melhor: do seu lado. Nela, os alunos poderiam inscrever (escrever) seus sonhos mais secretos. Seus desejos mais inomináveis. Sentimentos incômodos, idéias sem sentido, aborrecimentos.

         É desse material primário e não elaborado que um professor deve partir. É esse material que um professor deve saber escutar. Um professor não é um professor para modificar seu aluno, mas para ajudá-lo a ser quem é. O aluno não é um ideal do professor. Não é "sua obra". Não é uma tela em branco -  a tela em branco deve ser, deve tentar ser, o professor. Se o aluno dorme (Bandeira), o professor deve respeitar seu sono. Deve escutá-lo. Mesmo um sono quer dizer alguma coisa. É ali, naquele sono profundo, que o aluno verdadeiramente está. É dali que o mestre, se mestre mesmo pretende ser, precisar arrancar alguma coisa.

         Sim, o grande temor do mestre é colocar no aluno aquilo que não é seu. Volto a Bandeira: "O professor baixa a voz/ com medo de acordá-lo". Se é um mestre, deve saber escutar esse sono profundo. Quem deve despertar é o professor, e não o aluno. O professor deve despertar para o sono profundo do discípulo que dorme. Este sono não é gratuito, não é fingido, não é uma dissimulação. "Cansado das canseiras da vida", diz Bandeira, "um aluno dorme". Naquele sono há um cansaço e naquele cansaço uma vida que pede para ser escrita. Ser um mestre é escoltar um aluno em seu cansaço. É estar ao seu lado em seu esgotamento e em suas falhas. Não é estar à frente: não é "ser" um espelho. A tela em branca se coloca ao lado, não como a imposição de uma imagem, mas como um espaço oferecido à imagem, para que ela nele se derrame.

          Não é fácil. Nada fácil. Quase nunca, ou talvez nunca, se consegue isso. Mas é o que um mestre deve tentar. Sempre falho um pouco nesse meu esforço. Sempre interfiro. Firo. Sacudo. Acordo. É meio inevitável que seja assim, porque também eu sou imperfeito e tenho muito a aprender com meus alunos. E nem sempre consigo aprender (escutar) o que eles me oferecem. Quantas vezes tomo uma coisa pela outra! Quantas vezes tomo um sono profundo (e sincero) como um desafio! Nessa horas me aborreço, mas logo consigo entender que me aborreço comigo mesmo. Aborreço-me porque não sei ficar quieto. Porque não sei respeitar o que o outro tem a me dar. O que ele me dá, ainda que seja um sono, é o que tem de mais precioso.

          Mesmo que se trate de uma mentira (ficção). Sobretudo quando se trata de uma mentira (ficção). A mentira (ficção) é como o sonho que o aluno que dorme me oferece. A mentira é o que ele tira do que tem e deposita diante de mim. Para que eu decifre? Não, para que eu escute. A mentira é o que ele inventa (faz de si) para me dar. Professores não são críticos, não devem ser. Parecem-se mais com os velhos lanterninhas de cinema, que jogavam um frágil traço de luz na escuridão, para escoltar aquele mque o seguia. Se o aluno me oferece seu sono (escuridão), é a ela que devo acolher, é a ela que deve, mesmo precariamente iluminar. Nem sempre consigo isso. Muitas vezes saio meio aborrecido. Mas juro que tento. É o que me cabe _ mais do que isso é só intromissão, o que é bem o oposto de educação.

          Ensinar é ensinar o aluno a ser quem ele é. Bandeira está certo: se o aluno está dormindo, o professor deve aceitar seu sono e baixar a voz (autoridade) para não acordá-lo. É tão simples. Mas é o mais difícil.

*               *               *
Notinha da blogueira:  Esta crônica me fez começar a reler "Andorinha, andorinha", livro de Manuel Bandeira, em seleção e coordenação de Carlos Drummond de Andrade. Maioria dos textos em prosa.

(*) O embrião desse poema está no capítulo "Conversa de professor", no texto intitulado 'Colega de meus alunos', p. 189 da edição que possuo.

Ah, gostei muito do trocadilho do título "Bandeira na oficina" e também do duplo sentido do verbo 'dormir'.


sábado, 1 de junho de 2013

GUY DE MAUPASSANT e CHICO BUARQUE DE HOLANDA



"Geni e o Zepelim" faz parte da peça teatral 'Ópera do Malandro', de 1977.

Muitas vezes ouvimos uma canção cuja letra nos surpreende de início;  em alguns casos, nossa memória é ativada para algo parecido 'que ouvimos ou lemos não sei onde'. 
Esquecemos que os autores também podem ser influenciados por suas vivências e/ou leituras - o mais comum de acontecer - e assim, embora esta composição esteja claramente ligada a um período político nacional, percebemos os traços de uma história já contada em outro contexto político, em outro país e por um outro autor que não utilizava a composição musical.
Isto, porém, não invalida a 'releitura', pelo contrário, só vem acrescentar, agregar conhecimento e mostrar que não por acaso existe um letrista como Chico Buarque. Ele sabe o seu ofício, ah, se sabe!

Há um intertexto  em "Geni e o Zepelim" e o conto "Bola de Sebo", escrito por volta de 1880 pelo francês Guy de Maupassant, sobre a guerra entre a França e a Prússia, quando muitos habitantes franceses decidiram  fugir da ocupação prussiana e da obrigatoriedade de alojar os inimigos.

No conto de Maupassant, três casais burgueses, dois religiosos e uma jovem prostituta - Bola de Sebo - iniciam uma viagem em que terão que compartilhar o mesmo meio de transporte durante alguns dias, sendo forçados a conviver apesar das grandes diferenças sociais, culturais e éticas entre eles.
Os temas são os mesmos:
submissão, dignidade, generosidade - as duas personagens "Geni" e "Bola de Sebo";
conveniência e dissimulação - a cidade (na canção) e os viajantes (no conto));
autoritarismo e poder - o comandante do Zepelim e um oficial da Prússia.

Mas os contextos são diferentes.
Na canção de Chico Buarque, a meu ver, importa menos a caracterização de Geni como prostituta ou travesti;  trata-se do sistema político e da alienação do povo naquele momento.

Embora os discursos sejam parecidos e tenham a mesma intenção, na canção 'Geni' não tem voz própria, é sempre descrita pelo 'narrador' ou pela cidade, enquanto no conto de Maupassant  'Bola de Sebo' acusa diretamente a falta de patriotismo dos companheiros de viagem.

Aqui, no Brasil, é impossível mesmo que "Geni" possa se manifestar. Mesmo hoje. Quem se manifesta é a "celebridade", embora vazia, inculta, olhando sempre para o próprio umbigo.

Um dos trechos que me comove nessa letra:
"Acontece que a donzela
(E isso era segredo dela)
Também tinha seus caprichos
E a deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos."

E o final também é um "soco". Depois de livrar a população da loucura do comandante, Geni se sente aliviada e pensa que será menos maltratada dali em diante - coitada, acredita ainda no sentimento de gratidão da espécie humana...
"Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir

Joga pedra na Geni!
Joga bosta na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!"

*            *            *