segunda-feira, 10 de junho de 2013

Dolores Duran - Uma lembrança



Manias
Flávio Cavalcanti e Celso Cavalcanti

Dentre as manias que eu tenho 
uma é gostar de você

Mania é coisa que a gente
tem mas não sabe porque
Mania de querer bem, às vezes de falar mal
Mania de não deitar sem antes ler o jornal

De só entrar no chuveiro cantando a mesma canção
De só pedir o cinzeiro depois da cinza no chão

Eu tenho várias manias, delas não faço segredo
Quem pode ver tinta fresca sem logo passar o dedo?
De contar sempre aumentado tudo o que diz ou que fez
De guardar fósforo usado dentro da caixa outra vez

Mania é coisa que a gente
tem mas não sabe porque
Dentre as manias que eu tenho 
uma é gostar de você

...uma é gostar de você

*          *          *

Ah, Dolores Duran... nem sei bem por quê estive esses dias me lembrando de você... Você, cuja voz saía daquela vitrolinha bem anos 60, dos LPs (acho que hoje se diz 'vinil') que meu pai comprava para mim - eu devia ter uns treze ou quatorze anos e você já não estava mais neste mundo. 
Eu aprendia as letras... e cantava junto...e achava tudo tão bonito... Suas composições, então, me fascinavam: 'Ternura antiga', 'A noite do meu bem', 'Fim de caso', 'Noite de paz'', Castigo', 'Canção da volta'...e tantas outras.

Coincidência ou não, essa lembrança veio perto do seu aniversário de nascimento, 7 de junho,  mas eu nem estava pensando nisso, aliás, eu nem sabia antes de procurar suas canções no youtube. Estranho, não? Você foi embora tão jovem... 29 anos e cardíaca. Quem imaginaria?

Ajuda de Wikipédia: (novos tempos, Dolores)

Dolores Duran, nome artístico de Adileia Silva da Rocha (Rio de Janeiro, 7 de junho de 1930 — Rio de Janeiro, 24 de outubro de 1959).

Nasceu numa vila na rua do Propósito, no Centro do Rio de Janeiro, onde morou por alguns anos. 
Teve uma infância pobre e não conheceu o pai. Mudou-se para um cortiço no bairro da Piedade, subúrbio carioca, com a mãe, o padrasto e as irmãs Denise, Solange e Leila. 
Desde criança gostava de cantar e sonhava em ser cantora famosa.

Quando estava com  doze anos, teve que abandonar os estudos, parando no ensino primário, para ajudar a mãe com despesas de casa. 
Arranja um emprego e passa a trabalhar como atriz nas rádios Cruzeiro do Sul, nos programas da Tupi e no teatro, além de cantar em programas de TV, mas todos esses empregos eram temporários, o que não garantia dinheiro certo.
(...)
Tenta terminar os estudos, ingressando no ginásio, pagando uma escola, mas como o dinheiro era pouco e as mensalidades da escola estavam atrasadas, ela é expulsa do colégio.
(...)
 Sem nunca ter estudado línguas, aprendeu sozinha a cantar em inglês, francês, italiano, espanhol e até em esperanto.
Ella Fitzgerald durante a passagem pelo Rio de Janeiro, nos anos 1950, foi à boate Baccarat especialmente para ouvir Dolores e entusiasmou-se com a interpretação para My Funny Valentine - a melhor que já conhecera, declarou Fitzgerald.
(...)

Seu nome é espanhol, dramático e significa Dores. É muito forte, com uma carga de dor e sofrimento intenso; o sobrenome Duran, que quer dizer durante, sempre, intensifica ainda mais, como se não tivesse fim essa dor.

O jornalista Antônio Maria foi um dos melhores amigos da cantora, e escrevia publicações sobre ela.
Suas músicas se tornaram estrondoso sucesso. Eram dramáticas, belas e românticas, e expressavam os sentimentos mais puros de um coração. Prova disso é que Antônio Maria publicou: "Dolores Duran falou de sentimentos como ninguém, em todas as línguas. Seu idioma era o amor!"

Cantava em diversas boates no boêmio Rio de Janeiro daquela época. Sua fama se espalhou e foi contratada pela Rádio Nacional, uma das várias rádios cariocas que reuniam artistas do país inteiro, e que na época só escolhia os melhores cantores.
(...)

Jamais estudou canto e música, mas sua voz não precisava de correção através de aulas. Parecia mesmo que ela tinha nascido para cantar. Nessa época, seu padrasto morre e sua família enfrenta grandes dificuldades.
Passou a cantar músicas internacionais no programa Pescando Estrelas, onde só havia cantoras jovens e conceituadas. Lá ela conhece e se torna melhor amiga da cantora da importante Rádio Guanabara e da famosa Rádio Nacional, Julie Joy.
(...)
Muitas vezes, nas madrugadas, ela criava suas letras na mesa dos bares, bebendo e fumando, ouvindo canções de bolero, salsa, choro e samba.
Inspirava-se em seus casos amorosos e na sua vida em geral, suas alegrias, tristezas, dores, anseios e mágoas, para compor suas inesquecíveis letras.
(...)
Conheceu o cantor e compositor Macedo Neto, de quem gravou diversos sambas. Os dois se conheceram nos estúdios da gravadora Copacabana e rapidamente foram morar juntos.
Antes de se casarem no papel, porém, Dolores engravidou dele e passou por uma gravidez tubária (gravidez de alto risco que acarreta esterilidade materna e perda do feto), interrompendo seu sonho de ser mãe, o que arruinou sua vida e a levou a piora do vício em cigarro e bebidas.
(...)

Em 1956, fez sucesso com a canção Filha de Chico Brito, composta por Chico Anysio.
No ano seguinte, um jovem compositor apresentou a Dolores uma composição dele e de Vinícius de Moraes. Tratava-se de Antônio Carlos Jobim em início da carreira.
Em três minutos, Dolores pegou um lápis e compôs a letra da canção "Por Causa de Você". Vinícius ficou encantado com a letra e gentilmente cedeu o espaço a Dolores.
Foi revelado, a partir daí, o talento de Dolores para a composição e grandes sucessos, como Estrada do Sol, Ideias Erradas, Minha Toada e A Noite do Meu Bem, entre outros.

Em 1958, após muitas discussões e brigas violentas, desquitou-se de Macedo Neto e passou meses na Europa cantando e se apresentando com seu conjunto musical, fazendo muito sucesso.
Lá encontrou e viveu novos e intensos amores.
(...)

Cantou no Uruguai, na União Soviética e na China, na companhia de músicos brasileiros, mas, por desentendimento dela com o grupo, Dolores muda de planos e realiza seu grande sonho, viajando da China sozinha para Paris. Ficou um bom tempo passeando e conhecendo as maravilhas da cidade-luz, a bela e encantadora Paris.
De volta ao Brasil algum tempo depois, pegou para criar uma recém-nascida, pobre e negra, a quem deu nome de Maria Fernanda da Rocha Macedo, que foi registrada por Macedo Neto, mesmo estando ele separado de Dolores e a menina não ter com ele qualquer parentesco.
Passeava com a menina e lhe deu tudo de bom que o dinheiro e o amor podiam proporcionar.
A partir daí, durante os dois últimos anos de vida, compôs algumas das mais marcantes canções da MPB, como Castigo e Olha o Tempo Passando, e outras tantas.
(...)

Na madrugada de 23 de outubro de 1959, depois de um show na boate Little Club, a cantora saiu com seus amigos para uma festa no requintado Clube da Aeronáutica. Ao sair da festa, resolveram fechar a noite bebendo e ouvindo canções no Kit Club.
A cantora chegou em casa às sete da manhã do dia 24. Brincou e beijou muito a filha, já com três anos.
Em seguida, passou os últimos cuidados à empregada Rita: "Não me acorde. Estou cansada. Vou dormir até morrer", disse brincando.
No quarto, sofreu um infarto fulminante - que, à época, foi associado a uma dose excessiva de barbitúricos, cigarros e álcool.
Encontra-se sepultada no Cemitério do Caju no Rio de Janeiro.
**

Pois é... e cá estou eu a recordar essa moça, essa cantora e compositora de enorme talento tão pouco conhecida das gerações mais jovens.  Este país é muito esquisito mesmo!

Dolores Duran

*          *          *

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