G.Ramos - por Hugo Braz |
Garranchos raciais de Graciliano Ramos
Ivan Cláudio – Revista Isto É, 2241, 24/10/2012
Pensamentos e visões de mundo têm como limite o horizonte cultural de sua época. Por isso, não são eternos, mudam.
O perigo, ao se fazer uma leitura contemporânea das ideias tornadas públicas por um autor no passado, é esquecer que o contexto em que ele opinou sobre determinado assunto era outro.
Após a polêmica em torno do possível racismo de Monteiro Lobato, um risco semelhante paira agora sobre outro escritor, entre os menos visados: o alagoano Graciliano Ramos, cuja obra sempre se pautou pela denúncia e pelo combate das mazelas sociais.
(...)
Ao assumir a defesa dos negros, Graciliano desanca o mulato, pintado como traidor das origens. Condena o seu “embranquecimento” e estende a pena ferina também aos índios:
“Quando não se julgavam suficientemente clareados, os mulatos sempre se disseram caboclos, descendentes de uma raça de civilização inferior à de seus pais, mas que não tinha suportado a escravidão. Numa época em que a mania nacionalista fazia toda a gente se orgulhar de ter sangue índio, isso os aproximava dos brancos.”
“Quando não se julgavam suficientemente clareados, os mulatos sempre se disseram caboclos, descendentes de uma raça de civilização inferior à de seus pais, mas que não tinha suportado a escravidão. Numa época em que a mania nacionalista fazia toda a gente se orgulhar de ter sangue índio, isso os aproximava dos brancos.”
A leitura atenta desse ensaio, contudo, alinha elementos de sobra contra a acusação apressada de racismo por parte do autor de “Vidas Secas” e “Memórias do Cárcere”.
Esse é o limite de nossa época politicamente correta: grandes polemistas como Graciliano ou férteis ficcionistas como Lobato são hoje lidos com a lupa paranoica do policiamento.
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