"Curvas e Retas"
Por Elton Simões
Parece que foi Galileu o primeiro a sugerir que a natureza não gosta de linhas retas. Não sou capaz de avalizar a verdade histórica ou mesmo científica deste pensamento. Sou apenas capaz de reconhecer sua beleza.
Linhas retas são diretas, frias, eficientes. Espelham a necessidade ou desejo de alcançar um objetivo consumindo a menor quantidade de tempo, espaço e recursos. São instrumentos úteis na ciência e na tecnologia. Mas falta poesia em suas esquinas.
A vida não cabe na linha reta. Não é percurso linear. Se coubesse, seria caminho previsível, seguro. Seria apenas uma corrida onde só a velocidade importa. Não haveria aventuras, surpresas, aprendizados, decepções, e descobertas.
A natureza, como a vida, parece se mover com regras próprias, em padrões complexos, imprevisíveis de serem antecipados, onde o espaço para ângulos retos e caminhos retilíneos parece reduzido.
A vida está nas curvas. Curvas tornam impossível ver e prever o futuro com precisão. Adiciona o acaso a existência. Amplia a possibilidade para além do que a razão pode antecipar. Permitem o encontro e reencontro com aqueles cujos nomes ficam eternamente escritos na alma e na memoria. É no vai-e-vem dos caminhos que mora a poesia, o imprevisto, a descoberta e a arte.
Curvas são belas, sensuais e intrigantes. Emprestam o mistério que instiga a curiosidade. São ingredientes da arte. O artista dela extrai beleza e captura leveza. Transforma estruturas em poesia. Faz concreto o belo. Faz o belo, concreto.
Felicidade é contar com um poeta da curva. Poder admirar e dividir o belo. Poder testemunhar todos os dias à materialização da poesia em cada curva, em cada estrutura. Para sempre.
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