domingo, 16 de dezembro de 2012

'CASA DE AREIA' - Impressões


15/12/2012

‘CASA DE AREIA’ - Impressões
Sueli Madeira

Por falta de opção – mesmo a TV paga consegue ser pior nos fins de semana – assisti ao filme ‘Casa de areia’ (de 2005) e, para me distrair, venho aqui comentar.

Apesar de muito elogiado pela crítica  e de receber alguns prêmios, na minha opinião apresenta os mesmos problemas de outros filmes nacionais: lento, denso, poucos diálogos, chato.

Vale pela atuação das duas Fernandas – Montenegro e Torres - (mãe e filha na realidade, mãe e filha, filha e mãe nesta ficção, uma loucura) que seguram com seu talento o arrastar de uma trama sem graça, inverossímil e esquisita.

Fotografia linda em locação maravilhosa (Maranhão).

Não falo da direção porque nada havia para dirigir. Talvez algumas cenas apelativas sem um contexto que as justificasse.
Desculpem, acredito até na intenção de se produzir algo poético, mas isso ficou por conta das  atrizes protagonistas que dominam o ofício.

Consegui ver até o fim e a última cena quase compensou a perda de tempo.

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Em 1910, tendo adquirido algumas terras em região considerada promissora, casal se muda definitivamente para o lugar, buscando realizar um sonho dele.
A mulher, grávida, se sente frustrada e assustada ao perceber que, embora lindo, o local é triste, deserto e afastado de tudo. Só se veem dunas.

Na representação da passagem do tempo, o vento agita constantemente as dunas e a vida das personagens.

O marido morre e as duas mulheres ali permanecem, numa casa de madeira, frágil, sob a ameaça de serem soterradas pela areia em movimento e pela vida inóspita.

Não muito próximos, um vilarejo (na verdade, um quilombo)  e um acampamento militar.

A vida segue exigindo o surgimento do amor sob diversas formas.
A mulher não consegue ir embora dali mas providencia para que a filha tome outro rumo na vida.

Passam-se muitos anos e a filha volta em visita à mãe, esta já bem idosa.

(Aqui, Fernanda Montenegro sozinha – no duplo papel de mãe e filha, dá um ‘banho’  de interpretação. Emocionante.)

A conversa das duas é nostálgica, melancólica. A filha diz que o homem pisara na lua e a mãe pergunta, espantada, se voltaram mais jovens. A resposta é ‘não, talvez até mais velhos’. Novamente a mãe, então com olhar cético, pergunta:
- “E o que encontraram lá?”
- “Nada... só areia.”
- “Ah... areia...
Fim.

Detalhe: durante a conversa, a filha liga um aparelho toca-fitas a pilha – década de 70 – que reproduz ao piano uma peça de Chopin. (?!)
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Quem sabe e fala muito bem da falta de sentido das coisas deste mundo é Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa: “O único sentido íntimo das coisas é as coisas não terem sentido íntimo nenhum.”

Tanto investimento para chegar à lua e não encontrar nada por lá além de pedra e areia.
Uma vida inteira de sacrifício em busca de um sonho, uma ilusão e terminar na areia, metáfora mais lugar-comum para o correr do tempo.

Bem, estão aí as minhas impressões. Opinião pessoal, repito.

O filme foi muito elogiado pelos críticos e, acredito, pela maioria dos espectadores.

Mas tem aquele ditado, não é? Gosto não se discute.
Admito a minha má vontade.

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