segunda-feira, 7 de outubro de 2013

"O fabuloso destino de Amélie Poulain"

Artigo de Bruna Vieira de Assis - "Obvious"


AMÉLIE POULAIN - UM BRINDE ÀS COISAS SIMPLES DA VIDA

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain  já nasceu cult e clássico. 
O filme de Jean-Pierre Jeunet é um brinde à vida e sua simplicidade. Como em um belo banquete, onde tudo deve ser detalhadamente degustado e apreciado...


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"Em 3 de Setembro de 1973, às 18:28:32 uma mosca califorídea, capaz de 14.670 batidas de asas por minuto pousou na Rua Saint Vicent em Montmartre, no mesmo segundo num restaurante perto do Moluin-de-la-Gralette o vento esgueirou-se como por magia sob uma toalha fazendo os copos dançaram sem que ninguém notasse.
Nesse instante, no 5º distrito Eugéne Colere, de volta do enterro de seu amigo Èmile Maginot, apagou seu nome da caderneta de endereços... Ainda nesse mesmo segundo, um espermatozóide de cromossomo X, pertencente ao Sr. Raphael Poulain, destacou-se do pelotão e alcançou um óvulo pertencente à Sra. Poulain, em Solteira, Amandine Fouet."

"Nove messes depois nascia Amelie Poulain."


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É uma obra rara, linda e simples da sétima arte que nos leva ao universo particular de alguém que poderia ser qualquer um de nós. Mas é Amélie.. 

É fantástico observar o destino, a vida, como ela própria se coloca em nossa frente com seus detalhes peculiares, suas cores, seus tons, seus gostos e prazeres. E seus inúmeros toques, suas buscas, perdas e encontros. 
Por 122 minutos aproximadamente, Amélie nos convida a viver, nos instiga a percorrer novas rotas e sair do nosso "comum". 
Nos ensina a saborear, observar , registrar e a realmente amar. É amar, aquilo que é simples e belo por apenas ser. Que por várias vezes, devido a correria e "falta de tempo" nos passa totalmente despercebido. 
Amélie Poulain é um brinde ao toque e ao detalhe. 
"Também gosto de procurar detalhes onde ninguém vê." 

Portanto, encontre sua caixinha de surpresas e saia em uma aventura colorindo seu destino, assim como ensina a senhorita Poulain.
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Amélie, cultiva um gosto particular pelos pequenos prazeres. Como enfiar a mão bem fundo no saco de cereais entre outros...

Jogar pedras no canal Saint Martim.


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Quebrar a cobertura do "creme brülée" com a colher.


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Nas noites de sexta, as vezes ela costuma de ir ao cinema...
"Gosto de me virar no escuro e observar o rosto dos outros..."
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Mas e o amor? É mais um detalhe que na hora certa, deverá ser notado...


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"Cheio de beleza e com uma banda sonora verdadeiramente marcante.
Voltaire disse um dia que "a delicadeza é para o espírito aquilo que a graça é para o rosto." 
E Voltaire não teve a felicidade de conhecer Amélie Poulain. 
Amélie, esta, tem um sorriso maroto, meio malandro, como se a cada momento se preparasse para pregar uma partida a alguém. E tem uns olhos grandes, enormes, do tamanho das fantasias que lhe perpassam constantemente pelo cérebro.

No princípio: Amélie teve uma infância infeliz. Vítima de uma enfermidade que afinal não tinha mas que lhe fora diagnosticada, a pobre vive uma meninice arredada do convívio com as outras crianças, perde a mãe e perde o pai. Uma porque morreu e o outro porque não quer a vida.

Jean-Pierre Jeunet, começa o filme muito ao jeito de «Magnólia», assentando a génese da narrativa num processo resultante do efeito dos acasos que se conjugam formando estranhas coincidências.

Depois: uma infância infeliz não tem necessariamente que originar um adulto amargurado. 
E Jeunet inicia neste pressuposto uma áurea de teórico positivismo sobre a vida e seus personagens que não mais abandonará até final.

E também, falando-se de Voltaire, chame-se agora a este comentário Wilde; este afirmou, grosso modo, que "o egoísta não é o que vive como quer mas o que exige que os outros vivam como ele quer." Certo. Mas afirmou depois que "o altruísta é o que deixa os outros viverem sem interferir nas suas vidas."  
Nada mais errado, prova-o Amélie Poulain.

«Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain» (que bem que soa este título em francês) é um filme longe do tradicional rumo do cinema. Longe do habitual realismo tão obscuro quanto pessimista, este filme do cinema francês evoca um certo imaginário infantil aqui transportado para a nostalgia de que são formadas as memórias dos adultos. 
Um filme onde se cruzam histórias de uns, os da ficção, que se fundem nas de outros, os da realidade. Um filme que é um tributo à cor, à alegria, imensamente rico nas variadas personagens que o percorrem. 
Personagens de ficção copiadas da realidade que vivem as suas vidas de forma quase resignada, incapazes da ambição da verdadeira felicidade. 
É Amélie quem se intromete nessas vidas e lhes procura, por vezes com tão pouco, dar um novo sentido. 
E, embrenhada em tarefas altruístas, nem se apercebe que ela mesma receia dar esse passo na sua vida, que ela mesmo tem medo de ser feliz.

E é assim que decorre este filme, num clima impregnado de fantasia e brilho. Um filme que é tecnicamente excelente, recheado de efeitos especiais que permitem um estado de espírito estranho pela suave tranquilidade que a sua visão transmite. 
Diria ainda que é um filme baseado em bons princípios, em pequenas coisas de que às vezes julgamos poder prescindir no dia-a-dia mas que poderão revelar-se essenciais ao equilíbrio emocional de cada um.
Enfim, foi deste modo que vi «O Fabuloso Destino de Amélie Poulain» e o recomendo vivamente. 
Às vezes sabe muito bem ver um filme assim."

OBS.: (A página não traz a autoria desse texto. Parece-me escrito em português de Portugal).

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