O que querem que eu diga? E para quê? Estou afastada da carreira há três anos e, embora continue lendo e gostando muito de poesia e prosa de ficção, não me sinto com a mesma autoridade que a profissão exercida me conferia.
Na atualidade, a classificação no mercado de trabalho não inclui ex-nada. Esse negócio de ex-isso, ex-aquilo é coisa de responsabilidade. Ex é para sempre, já dizem em outro contexto.
Leio quando quero, penso se quiser, e continuo, sim, mesmo sem compromisso, a percorrer esse caminho, esse que ilumina e dá cor à vida da gente.
O lado bom desse afastamento é que, nessa liberdade aplicada, posso deixar tudo pra lá e ir até a cozinha preparar uma lasanha ou assar e confeitar um bolo.
Posso também me propor a arrancar as ervas daninhas do jardim e em seu lugar plantar aquelas sementes de begônias e gérberas com que minha amiga me presenteou.
Isso sem o ônus da culpa de haver desperdiçado o tempo que usaria para análise do humano ou inumano na literatura, num plano de aula que talvez nem utilizasse naquele dia. A aula transcorreria, como sempre, ao sabor do assunto de interesse da classe, sutilmente direcionado aos objetivos do curso. E era sempre bom.
Hoje, minha cota de desperdício de tempo (segundo alguns), para mim, é ilimitada. Haja vista a criação e manutenção desses blogs, algo que faço com o maior cuidado comigo mesma. Sim, porque não penso tratar-se de egoísmo, mas uma espécie de prevenção, atenção ao que está por vir e que, graças aos muitos mistérios da vida, ignoramos.
* * *
(...)
"Cada momento de luz ou de treva
é para mim um milagre,
milagre cada polegada cúbica de espaço,
cada metro quadrado da superfície da terra
por milagre se estende,
cada pé do interior está apinhado de milagres.
O mar é para mim um milagre sem fim:
os peixes nadando, as pedras,
o movimento das ondas,
os navios que vão com homens dentro
— existirão milagres mais estranhos?"
Walt Whitman, in "Leaves of Grass
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