Falei que a tal arrumação dos livros renderia...
Aí está um texto escrito há muito, muito tempo.
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Deixo o prédio onde durante toda a tarde estive em diálogos lúcidos, programados, coordenados, com um terminal de computador. Trabalho concluído, tempo de voltar. Informações exatas, respostas imediatas.
No táxi - inacreditavelmente consigo um táxi logo ao pisar a calçada - o motorista bem humorado (porque bêbado) dirige descascando uma laranja e insiste em levar-me à Igreja, quando o que pretendo é ir para o hotel e descansar para ir embora amanhã. Convenço-o afinal. Quero chegar logo.
Preciso estar um pouco só e desmanchar a organização eletrônica, desalinhar os cabelos presos, desabotoar os sentidos, descalçar o asfalto.
Entro no apartamento. Chuveiro ou telefone? A lista telefônica - enorme - se oferece desafiadora, numa cumplicidade impaciente. O chuveiro - discreto - espera paciente, numa certeza antiga.
A cidade é imensa, teu nome curto consta nas primeiras páginas.
Ousadia ou ansiedade trazem-me tua voz incrédula mas extremamente doce repetindo perguntas irrespondíveis.
- "Estamos sob forte carga emocional" , dizes.
Não falo.
Dezesseis anos de silêncio atordoam minha alma atônita.
Sueli Madeira
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