Hannah Arendt é um filme de drama teuto-francês de 2012, uma obra biográfica sobre a professora e filósofa política alemã de origem judaica..
Estrelado por Barbara Sukowa, dirigido por Margarethe von Trotta e distribuído por Zeitgeist Films, no Estados Unidos, onde entrou em cartaz em 29 de maio de 2013.
Há filmes que deixam algo queimando em nossa mente. Esse é um deles.
Não é a biografia completa , e sim o olhar sobre um episódio marcante na vida de Hannah Arendt, quando ela foi a Jerusalém fazer a cobertura, para o jornal New Yorker, do julgamento do nazista Adolf Eichmann.
A partir do interrogatório e das respostas do réu, ela desenvolve uma teoria sobre a 'banalidade do mal' e esse termo põe em polvorosa toda a sociedade da época.
O que Hannah via sentado ali, sob acusação de tremendos horrores, era um homem medíocre, de aparência comum, mirrado, sem eloquência ou qualquer outro atrativo.
Embora fosse o responsável pela saída dos trens para os campos de Treblinka, Berkinau, Aushwitz, não se sentia, em nenhum momento, culpado pelo extermínio daquelas pessoas durante a 2ª Guerra. Segundo ele - e havia tal desprendimento e falta de emoção em sua figura - apenas 'cumpria ordens', ou seja, a função dele não era pensar.
A análise do julgamento apontava para o perigo de se confundir a natureza do mal.
Há aqueles que já trazem consigo o prazer pelo sofrimento do outro, a maldade implícita. Mas há também a diluição do mal entre as pessoas consideradas comuns, normais, através de um sistema todo montado para justamente, despersonalizar, reduzir o humano à categoria apenas técnica, banalizando e facilitando a vida cotidiana, organizando-a em setores extremamente eficientes e pragmáticos.
O perigo maior não está nos mentalmente desorganizados, nos doentes, nos psicopatas.
O perigo é o sistema gerado para colocar pessoas consideradas normais em situação de violência generalizada; o perigo vem da violência sistematizada exercida por pessoas comuns, banais.
Em seu artigo dividido em 5 pubicações, Hannah Arendt trata também do perigo do ódio acumulado, sem esquecer a justa reação ao sofrimento. Não se deve mesmo abandonar o repúdio constante a qualquer forma de tortura. É justo manter viva a lembrança dos horrores praticados por pessoas comuns vivendo em um sistema perverso.
Há sistemas em que se justificam atos irracionais, aterradores, com argumentos aparentemente racionais e necessários. Emocionalmente, as pessoas se sentem melhor mantendo a legitimidade do sentimento de ódio; irracionalmente preferem extravasar a raiva em lugar de racionalizar o combate ao sistema. É tudo que o totalitarismo deseja.
Transformar o semelhante em dessemelhante; privar o pensamento, a reflexão sobre os próprios atos é o que pretende um sistema político totalitário. Não se trata mais de pessoas que sentem, sofrem, amam, pensam. É toda uma 'categoria' que cumpre ou não cumpre o que o tal sistema elabora.
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Enfim. fiquei muito impressionada com o filme, eu que já ando assombrada com os rumos esquisitos deste país...
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