OH PEDAÇO DE MIM
Chico Buarque de Holanda
Análise: José de Matos - Médico Psiquiatra Psicanalista
Autêntica elegia à dor como expressão afetiva, a canção de Chico tem a forma melódica de um réquiem à perda definitiva, sem esperança de restauração.
Compōe uma peça artistica de maior pungência do cancioneiro brasileiro.
A extensão do texto exige sua fragmentação para melhor análise:
Começa a música revelando um ego despedaçado
Oh pedaço de mim
Aqui define-se o despedaçamento e o quê se perde sob a forma de olhar, sinais, vulto e presença.
Oh metade afastada
exilada
arrancada
amputada
adorada
de mim,
Leva o teu olhar
teus sinais
o vulto teu
o que há de ti
os olhos teus
Aqui, a dor da saudade, define-se como tormento mais dramático que o esquecimento ou uma vida vegetativa.
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do se entrevar
Aqui a dor da saudade equivale a uma partida, uma ida cujo retorno é desconhecido
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais
Neste ponto, o revés do parto, é o nascimento para a Morte em que o último cuidado é o de arrumar um quarto que nunca será ocupado por um filho!
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Nesta colocação, a dor, enquanto presença incômoda, é melhor do que a amputaçao, representando uma perda irreparável.
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Encerra-se a música em que saudade é um castigo, como um traje fúnebre que decrete a morte do Amor para todo o sempre!
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
A despedida é fechada com a derradeira saudação: ADEUS!
Nossa homenagem a mestre Chico!!!
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José de Matos
Médico Psiquiatra Psicanalista
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